Liderança e Inteligência Emocional
Afinal de contas, o tema inteligência emocional é um modismo ou vem para ficar? A discussão sobre o tema é cada vez mais presente no mundo dos negócios e nas relações interpessoais.
A definição de quociente de inteligência (QI) vem sendo desafiada pelo mundo atual, instável e rápido. Hoje, o conceito clássico de inteligência tem perdido valor frente ao avanço das tecnologias e softwares com modelos preditivos capazes de resolver problemas complexos. Os profissionais mais requisitados são aqueles que são resilientes e estáveis, onde em ambientes hostis, conseguem abordar problemas complexos de forma estruturada. O segredo? Inteligência Emocional.
O aumento nos casos de depressão e o nível crescente de estresse nas relações de trabalho direcionam as atenções para as emoções. Saber como lidar com os estados de alegria, tristeza e stress fazem parte do que Daniel Goleman chama de inteligência emocional em seu best-seller:
“Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente”
Esse artigo passeia pela mensagem do livro e explora as descobertas sobre a arquitetura emocional dos nossos cérebros e como ela explica a constante força que sempre tende a colocar a emoção na frente da razão. Em seguida, a partir da análise dos dados neurológicos, é possível entender como os impulsos emocionais são transmitidos em ações e afetam nosso corpo. A partir da origem das emoções e das ações, a parte três analisa qual a importância da inteligência emocional na liderança e por fim a parte quatro ensina como fazer uma boa leitura de ambiente e praticar a inteligência emocional na liderança.
Parte 1 – A emoção e o cérebro
A evolução do nosso cérebro foi determinante para a evolução da espécie humana. Os “modelos” mais primitivos dos nossos ancestrais comandavam as funções básicas (respiração, funcionamento dos órgãos, metabolismo, fome, sede e instinto de sobrevivência etc.). Milhares de anos depois, do tronco primitivo, surgiram os centros emocionais (sistema límbico) e na última etapa, a partir do surgimento do neocórtex, a memória e a capacidade de aprendizado.
Toda a construção do sistema de memória e da capacidade de aprendizado foi estruturada a partir do cérebro emocional (sistema límbico), e portanto, em momentos difíceis de emergência emocional as fortes conexões com o cérebro emocional assumem o controle para “garantir a sobrevivência”.
Na raiva: O sangue flui para as mãos, facilitando o uso de armas ou golpes no inimigo. A adrenalina é liberada no organismo permitindo uma atuação vigorosa.
No medo: O sangue flui para as pernas, facilitando a fuga. O sangue foge das faces e o corpo fica paralisado esperando a melhor oportunidade para se esconder ou fugir.
Felicidade: Aumento da energia corporal, favorece a execução de atividades, inibe sentimentos negativos. Nenhuma mudança fisiológica além da tranquilidade (ausência de estímulos como medo e raiva).
O amor: sentimentos de afeição e satisfação sexual, estimulam a resposta de relaxamento e facilitam a satisfação pessoal e cooperação.
Surpresa: Permite varredura visual maior e aumenta a entrada de luz na retina. Permite a captura mais rápida de informações para entender a situação.
Repugnância: Envia uma mensagem ao cérebro de que algo desagradou o olfato ou o paladar real ou metaforicamente. Altera a face em um instinto de fechar as narinas ou cuspir algo ruim.
Tristeza: Perda de energia corporal e do entusiasmo pelas atividades da vida, em particular diversões e prazeres. O retraimento introspectivo favorece a reflexão e é uma oportunidade para repensar os próximos passos.
Em um sentido mais amplo, é como se o cérebro fosse dividido em duas áreas: a da razão e a da emoção. A razão permite avaliar os fatos de forma mais calma e de vieses, permitindo decisões de longo prazo. A emoção, é fundamental para nos salvar de situações extremas e para nos auxiliar na interpretação do mundo ao nosso redor. Portanto, entender a dinâmica do cérebro e o reflexo disso nas nossas ações, permite utilizar a melhor parte de ambas as áreas. E isso, é ter inteligência emocional.
Parte 2 – Inteligência Emocional vs. QI.
A inteligência acadêmica não prepara para as situações inesperadas ou para oportunidades. Um alto QI não é garantia de prosperidade, prestígio ou felicidade.
Quantas pessoas por tirarem boas notas em exatas escolhem engenharia como profissão, ou quantas se veem como médicas por alcançarem os melhores resultados nos testes de biologia. A inteligência acadêmica não é proporcional à inteligência emocional.
Os estudos de psicologia de Howard Gardner, da Escola de Educação de Harvard, seguido de trabalhos realizados por outros psicólogos, concluíram que o QI mede apenas algumas características linguísticas e matemáticas, deixando de lado outras importantes habilidades necessárias na vida. Entre esses psicólogos, Peter Salovey da Universidade de Yale, propôs uma abordagem mais completa da inteligência, expandindo o conceito anterior para 5 domínios principais que compõem a inteligência emocional:
1. Conhecer as próprias emoções;
Ter autoconsciência desenvolvida, entendendo como cada situação te afeta e muda seu humor e postura. Saber observar e detectar nossos verdadeiros sentimentos.
2. Lidar com emoções;
A partir da autoconsciência é possível desenvolver a capacidade de se autoconfortar, acabar com a ansiedade e irritabilidade.
3. Motivar-se;
É a capacidade de conter as emoções e direcioná-las para realizações. É a capacidade de manter o foco. Saber adiar a satisfação e conter a impulsividade é essencial para alcançar qualquer resultado positivo.
4. Reconhecer emoções nos outros;
É a empatia em si. O ato de ser capaz de identificar as sutis mudanças de humor nos outros e entender seus sentimentos nos levando ao altruísmo. É uma habilidade fundamental para ensinar, vender e administrar.
5. Lidar com relacionamentos;
É a capacidade de, a partir da empatia (se colocar no lugar do outro), entender os possíveis motivos das ações de cada um. Essa é a quinta, mas não menos importante, habilidade que compõe a definição de inteligência emocional. A capacidade de lidar bem com relacionamentos determina a liderança, a popularidade e a eficiência interpessoal.
Parte 3 – Qual a importância da inteligência emocional na liderança?
O estado emocional e o comportamento do líder direcionam o de todos os outros. Um “chefe” sem empatia cria um ambiente tóxico e de baixo desempenho. E no final das contas, o reflexo aparece nos resultados da empresa.
Desde 1981, psicólogos como Howard Friedman e Ronald Riggio estudam como as emoções são transmitidas de uma pessoa para outra, verbalmente e gestualmente. Segundo a pesquisa de Caroline Bartel (New York University) e Richard Saavedra (University of Michigan), nos escritórios e departamentos, pessoas tendem a compartilhar o mesmo sentimento alegre ou triste, de euforia ou de frustação por influenciarem umas as outras.
No mundo corporativo, o humor do líder e sua inteligência emocional são um importante drive desse sentimento coletivo. Inclusive nos casos em que o líder não aparece, sempre trancado em seu escritório por exemplo, uma mensagem implícita é entregue a seus subordinados e o sentimento coletivo é influenciado.
A resposta então é ter um líder sempre animado e disposto, certo? Não.
O líder não pode estar descolado do ambiente ao seu redor. Isso se chama ressonância, que significa reagir de acordo com o cenário apresentado. Uma alegria falsa em um momento de crise pode ser prejudicial e fazer o líder perder a equipe. É muito melhor para a equipe uma aceitação real do problema e um enfrentamento em grupo com resiliência.
O maior desafio, entretanto, é saber como ler o ambiente. Nem sempre o líder recebe os inputs que transmitem o verdadeiro sentimento da sua equipe. O time, por vezes, tem medo de compartilhar sua opinião sincera por medo de represálias ou em alguns casos nem compreende a importância de uma equipe unida.
Parte 4 – Como ler o ambiente e praticar a inteligência emocional na liderança?
Não se nasce com inteligência emocional aguçada, ela é desenvolvida ao longo dos anos e a partir das experiências de vida. O primeiro passo é olhar para dentro e conhecer as próprias emoções e como os acontecimentos do dia a dia afetam sua performance, ou seja, desenvolver a autoconsciência.
O segundo momento, e talvez o mais crítico, é o de descobrir a percepção que os outros têm de você. Primeiro, porque nem todos conseguem ser francos e segundo porque a sinceridade pode machucar, portanto, o líder precisa ter um comportamento aberto e entender as críticas de forma construtiva.
A metodologia de feedback 360° pode ser muito útil na empresa para que todos entendam como se posicionam no espectro coletivo e no que precisam melhorar. A metodologia 360° permite que todos compartilhem suas visões sobre a liderança e ajuda no desenvolvimento da empatia, ou seja, se colocar no lugar do outro.
Por último, após desenvolver a autoconsciência e entender as críticas, o líder deve criar um PDI, plano de desenvolvimento individual, se necessário com a ajuda de um especialista, para trabalhar os pontos a serem desenvolvidos.
Grupos de desenvolvimento podem ser criados dentro da própria empresa para que o feedback e o desenvolvimento pessoal sejam compartilhados e melhores. Um momento anual único de trocas pode ser muito lento para o desenvolvimento pessoal. Nesse aspecto, encontros quinzenais ou mensais podem ser positivos para que as situações sejam discutidas assim que acontecerem. Uma troca franca é positiva para que cada membro da equipe aprenda a lidar com suas limitações pessoais e desenvolvam a inteligência emocional necessária para vencer os desafios.
Nós da MERITHU buscamos aprender sempre com os projetos e com as diferenças que encontramos nas equipes internas e em nossos clientes. Cada experiência compartilhada, enriquece o nosso conhecimento e nos ajuda a entregar o melhor para as empresas que atendemos.
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Fontes:
Riordan, C. Three Ways Leaders Can Listen with More Empathy, HBR 2014.
https://hbr.org/2014/01/three-ways-leaders-can-listen-with-more-empathy
Goleman, D.; Boyatiz, R.; McKee,A. Primal Leadership: The Hidden driver of Great Performance, HBR 2001.
https://hbr.org/2001/12/primal-leadership-the-hidden-driver-of-great-performance?utm_medium=email&utm_source=sharpspring&sslid=Mzc0NjUyMTUxNTW2BAA&sseid=MzIwMzM2NjIzNwUA&jobid=80a111c2-342e-4d11-b012-01bc9bdc31f1
Goleman, D. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 1995
Autores:
Hugo Barros
É consultor na MERITHU Consultoria em São Paulo. Durante sua trajetória profissional, adquiriu vasta experiência trabalhando como executivo de empresas multinacionais , elaboração de Planejamento Estratégico de Longo Prazo com desenvolvimento de cultura organizacional e pessoas, visando maior participação de mercado, melhoria dos resultados operacionais, crescimento de receita e lucratividade. É Engenheiro Mecânico formado pela Fundação Educacional de Bauru (UNESP), Leadership Skills Program pela The Mahler Company (EUA), Professional Dealer Development Program – University of Distribution pela University of Alabama Birmingham (EUA) , Latina America Dealer Model Program pela Currie Management Consultants
Arthur Friedrich
É consultor na MERITHU Consultoria no Rio Grande do Sul. Durante seus 4 anos de experiência, atuou na MaxiQuim Consultores Associados, compondo relatórios sobre o mercado petroquímico com foco em resinas poliméricas. Em seguida, na Ipiranga Produto de Petróleo S.A., empresa varejista de combustíveis, auxiliou no gerenciamento de consultorias ambientais prestadoras de serviço para a prevenção e remediação de contaminações ambientais. É Engenheiro Químico graduado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com mobilidade na University of Strathclyde em Glasgow no Reino Unido.