Lucro x caixa: o que garante a sustentabilidade financeira?
Sustentabilidade financeira é algo que, teoricamente, é simples de se ter. Temos que ganhar mais do que gastar para conseguirmos caixa ao final dos meses. Por mais compreensível que isso possa parecer, por que tantas empresas acabam quebrando justamente por não cumprir com princípios que aparentam ser de fácil entendimento? Convido-lhe a continuar a leitura para que possamos responder esta questão.
LUCRO x CAIXA
Empresas quebram não por não serem lucrativas, mas sim porque não conseguem gerar caixa suficiente ao final dos seus períodos. Grave bem o que foi escrito aqui, lucro não garante a sustentabilidade financeira de uma organização, caixa sim. Mas então, qual a diferença entre lucro e caixa?
Lucro é uma figura contábil e não representa, necessariamente, a quantia de dinheiro que a empresa gerou no seu período. Ele é o excedente (ou falta) de recursos depois de todas despesas e obrigações serem subtraídas da receita. Já o caixa é a quantidade de dinheiro disponível como resultado da entrada e saída de dinheiro. É com ele que serão pagos todas suas obrigações, como fornecedores, salários e financiamentos. Dentro deste cenário podemos ter quatro situações.
- Empresa lucrativa com fluxo de caixa positivo;
- Empresa lucrativa com fluxo de caixa negativo;
- Empresa no prejuízo com fluxo de caixa positivo;
- Empresa no prejuízo com fluxo de caixa negativo.
Relação Lucro x Caixa
Todos queremos estar na situação de número 1, é nela que temos problemas bons, como onde alocar o dinheiro para termos os melhores retornos e quando e no que realizar os investimentos necessários para que nosso negócio cresça ainda mais.
A situação de número 3, onde o negócio possui geração de caixa, entretanto não tem lucro, ocorre principalmente pelo descasamento entre o regime de caixa e competência. Imagine uma grande rede varejista que teve baixas vendas em determinado mês, ocorrendo, assim, prejuízo neste período. Porém, ao mesmo tempo, muitas vendas dos meses anteriores estão entrando visto o parcelamento que é feito – ou seja, a organização registrou prejuízo no período, porém gerou caixa devido aos meses que o antecederam.
As situações mais habituais que vemos nos nossos trabalhos de consultoria são as 3 e 4 – onde a organização corre riscos visto a falta de dinheiro e ao possível círculo vicioso de contração de empréstimos para honrar as obrigações do a dia-a-dia. Nestes casos, temos que ter um grande cuidado com um indicador que até agora não falamos, porém de fundamental importância – o capital de giro.
CAPITAL DE GIRO
De acordo com a contabilidade, capital de giro é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante (AC – PC). Mas o que isso realmente quer dizer? E o que isso tem a ver com a sustentabilidade financeira da empresa? Pois bem, capital de giro não é nada mais do que o dinheiro (caixa) que precisamos para poder operar nossas atividades cotidianas – pagamento de fornecedores, salários, manutenção do estoque, pagamento de financiamentos, entre outros. Ou seja, caso você não tenha dinheiro em caixa suficiente para conseguir honrar com suas obrigações do dia-a-dia, terá que tomá-lo de terceiros – e aí que a sua sustentabilidade financeira começa a ir embora.
Caso sua empresa venda parcelado, muito provavelmente irá necessitar de uma gestão de capital de giro eficiente. Caso contrário, seu ciclo financeiro pode ser a “pedra no sapato” do seu negócio e ser uma das principais causas de uma possível dificuldade no futuro. Mas então, o que é ciclo financeiro e como podemos utilizá-lo a favor da sua empresa?
Pois bem, o ciclo financeiro é o tempo que sua organização demora para gerar caixa desde a compra da matéria prima até o recebimento pela venda realizada. Ele é composto pelos prazos médios de pagamento (PMP), estoque (PME) e recebimento (PMR). A figura a seguir irá ajudá-lo a compreender melhor. Lembrando que ele faz parte de um ciclo maior, o operacional, que é o tempo desde a compra da matéria-prima até o respectivo recebimento das vendas.
CICLO OPERACIONAL = PMP + PME + PMR
CICLO FINANCEIRO = PME + PMR – PMP
Ciclo Operacional
Ou seja, para otimizarmos o nosso capital de giro e garantirmos uma boa gestão do nosso fluxo de caixa, devemos sempre diminuir nosso ciclo financeiro e para isso acontecer, podemos:
- Aumentar nosso giro de estoque e, consequentemente, diminuir nosso prazo médio de estoque;
- Negociar com seus clientes para receber seus pagamentos de forma antecipada;
- Negociar com seus fornecedores para pagá-los a um prazo mais estendido.
Dessa forma, podemos tornar nosso capital de giro mais eficiente para termos folgas de caixa ao longo dos períodos. Sabemos que realizar tais movimentos não são fáceis e exigem planejamento e estudos sobre todas as alavancas. Lembre-se: a boa gestão do seu caixa e, consequentemente, de seus prazos médios irá garantir a sustentabilidade financeira da sua organização.
Além de renegociações com os stakeholders podemos:
- Implementar lote mínimo de compra e de produção;
- Construir e implementar um Orçamento Base Zero (OBZ);
- Estruturar e implementar uma área de qualidade para produção;
- Estudar a produtividade comercial e fabril para identificar o nível satisfatório de estoque.
A MERITHU possui soluções específicas sobre isso. Visite link para saber mais – https://merithu.com.br/gestao-do-capital-empregado/ .
CONCLUSÃO E ÚLTIMO RECADO
A sustentabilidade financeira de uma organização parte da gestão do seu capital de giro. Devemos nos lembrar que lucro e caixa não são o mesmo conceito e devemos tratá-los de forma separada. Empresas lucrativas podem enfrentar dificuldades financeiras assim como organizações que geram caixa podem estar no prejuízo.
Devemos primeiramente identificar o tamanho do ciclo financeiro através dos cálculos dos prazos para, em seguida, atuar nele. Utilizar benchmarks da sua empresa pode ser um caminho para a identificação de possíveis lacunas para posterior definição de metas – lembre-se: empresas de capital aberto possuem todos estas informações em seus balanços! Caso seu setor tenha um caráter mais fechado em termos de dados, uma análise histórica interna da sua organização é recomendada para depois ser realizada uma atuação nos gaps encontrados.