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Gestão de Riscos: Preparação Estratégica Mesmo Diante do Imprevisível

Introdução

Vivemos em um mundo cada vez mais complexo, interconectado e, consequentemente, exposto a uma variedade de riscos que desafiam a resiliência das organizações. Eventos como a pandemia de COVID-19, os ataques de 11 de setembro, a guerra na Ucrânia e o conflito em Israel são exemplos extremos de situações imprevisíveis que abalaram economias, desorganizaram cadeias de suprimento e testaram a capacidade de resposta de empresas em escala global. Diante de tamanha incerteza, a gestão de riscos se consolida não apenas como uma ferramenta técnica, mas como uma competência estratégica essencial à sobrevivência e à continuidade dos negócios. Este artigo discute a importância da gestão de riscos como um pilar fundamental para proteger organizações, inclusive diante de eventos fora de qualquer projeção tradicional.

Gestão de riscos: um escudo contra a incerteza

A gestão de riscos é um processo sistemático de identificação, avaliação e mitigação de ameaças que podem impactar negativamente os objetivos organizacionais. Ela não se limita a eventos previsíveis ou estatisticamente calculáveis. Ao contrário, seu valor se revela ainda mais significativo quando confrontada com situações imprevisíveis ou de baixa probabilidade e alto impacto — os chamados “cisnes negros”.

Muitas empresas cometem o erro de associar a gestão de riscos apenas a controles internos, seguros ou planos de contingência para incidentes rotineiros. No entanto, a maturidade em gestão de riscos exige uma abordagem mais ampla e dinâmica, capaz de mapear vulnerabilidades estratégicas, acompanhar cenários externos e desenvolver capacidades adaptativas. Ou seja, a gestão de riscos não se trata de prever o imprevisível, mas de estar melhor preparado para enfrentá-lo.

Prever o imprevisível: é possível?

Embora ninguém possa antecipar com precisão o momento exato de uma pandemia, ataque terrorista ou conflito armado, é possível — e necessário — adotar práticas que ampliem a capacidade organizacional de percepção e antecipação. Algumas abordagens incluem:

  • Análise de cenários e inteligência estratégica: Ao monitorar tendências globais, indicadores políticos, sanitários e sociais, empresas podem construir cenários alternativos (inclusive pessimistas) e antecipar possíveis impactos. Especialistas em geopolítica, futuristas e analistas de risco podem ajudar a “conectar os pontos” antes que os eventos ocorram.
  • Monitoramento contínuo de riscos emergentes: Utilizando ferramentas de análise de dados e sistemas de alerta precoce, é possível captar sinais fracos de mudanças que podem se tornar crises. Um aumento em tensões políticas, surtos localizados de doenças ou ciberataques coordenados são exemplos de sinais a serem acompanhados.
  • Diversificação e descentralização: Empresas que distribuem sua produção, cadeias de suprimento e operações geograficamente reduzem sua vulnerabilidade a eventos localizados, como guerras ou catástrofes naturais.
  • Simulações e testes de estresse: Realizar exercícios simulados com base em cenários extremos (ex.: falha total de sistemas, indisponibilidade de recursos críticos, fechamento de fronteiras) ajuda a preparar equipes, revisar planos e detectar fragilidades operacionais.

Essas práticas não garantem que o risco será evitado, mas aumentam a agilidade, a capacidade de resposta e a resiliência das organizações diante do inesperado.

Casos extremos e lições aprendidas

A pandemia de COVID-19 é o exemplo mais recente e evidente da necessidade de gestão de riscos robusta. Organizações que haviam previamente desenvolvido planos de continuidade de negócios, investido em tecnologias de trabalho remoto e mantido uma cultura de resiliência conseguiram responder com mais agilidade às restrições sanitárias, à escassez de insumos e às mudanças no comportamento do consumidor. Já aquelas que negligenciaram essas práticas enfrentaram sérias dificuldades, e muitas sequer sobreviveram.

O ataque de 11 de setembro de 2001 transformou profundamente o setor de aviação, finanças e segurança global. Empresas com planos de resposta a crises conseguiram reorganizar operações, proteger dados críticos e restabelecer suas atividades com menor tempo de inatividade. O mesmo se observa nas guerras atuais na Ucrânia e em Israel: embora impossíveis de prever com precisão, seus impactos — interrupções logísticas, flutuações cambiais, riscos cibernéticos — já estavam mapeados por organizações que adotam uma gestão de risco integrada e proativa.

O papel estratégico da gestão de risco

Mais do que um conjunto de procedimentos, a gestão de riscos deve estar integrada à estratégia corporativa. Isso significa envolver a alta liderança, garantir uma governança eficaz e fomentar uma mentalidade que valorize a antecipação, a resposta rápida e a aprendizagem contínua.

Ao incorporar a análise de riscos no processo de tomada de decisão, as organizações não apenas reduzem perdas potenciais, mas também identificam oportunidades em meio à crise. A gestão de riscos, nesse contexto, deixa de ser um freio e passa a ser um acelerador estratégico: ela permite ousar com responsabilidade, inovar com segurança e crescer de forma sustentável, mesmo diante da incerteza.

Conclusão

Eventos imprevisíveis continuarão a desafiar empresas em todo o mundo. Entretanto, o que diferencia organizações resilientes das demais não é a capacidade de evitar tais eventos, mas sim a preparação para enfrentá-los com consistência, agilidade e inteligência. A gestão de riscos, quando bem estruturada e integrada à estratégia, atua como um diferencial competitivo em tempos de crise e como um alicerce de sustentabilidade nos tempos de estabilidade.

Em um ambiente cada vez mais volátil e incerto, ignorar os riscos é um risco em si. Por isso, investir em gestão de riscos não é apenas uma boa prática — é uma questão de sobrevivência.

Referências Bibliográfica

  1. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 31000:2018 – Risk management – Guidelines. Genebra: ISO, 2018.
  2. TALEB, Nassim Nicholas. A lógica do cisne negro: o impacto do altamente improvável. Tradução de Alves Calado. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008.
  3. KAPLAN, Robert S.; MIKES, Anette. Managing risks: a new framework. Harvard Business Review, Cambridge, MA, June 2012. Disponível em: https://hbr.org/2012/06/managing-risks-a-new-framework. Acesso em: 10 maio 2025.
  4. AVEN, Terje. Risk analysis. 2. ed. Chichester: Wiley, 2015.
  5. INSTITUTE OF RISK MANAGEMENT. Global risk landscape report. Londres: IRM, 2020. Disponível em: https://www.theirm.org/knowledge-and-resources/thought-leadership/global-risk-landscape/. Acesso em: 10 maio 2025.

Artigo escrito por Carlos Afonso Zilli, Diretor Financeiro da Merithu Consultoria.

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