Formular estratégias não é uma tarefa fácil nem para o diretor de uma grande empresa nem para um novo empreendedor. Nos últimos anos, tenho me especializado no estudo da gestão estratégica e como consultora, ajudando organizações a formular e alinhar sua estratégia para garantir a sua ambição de longo prazo, pude comprovar alguns aprendizados sobre estratégia que gostaria compartilhar com vocês.
Consolidei estes aprendizados nos em forma de mandamentos. Não são um passo a passo, mas sim norteadores que se levados em conta, podem ajudar no sucesso de estratégia.
1. Estratégia é saber onde se quer chegar: Você já deve ter ouvido falar do livro Alice no País das Maravilhas. Nesta história, quando a Alice se vê perdida, ela encontra o Gato, ao qual pergunta qual caminho deve seguir. Ele então lhe responde com outra pergunta, “para onde você quer ir? Pois se não sabe onde ir qualquer caminho serve?”. Na estratégia não é diferente. As empresas que não sabem onde querem chegar tem dificuldades em engajar o time, combater a concorrência e priorizar atividades e projetos. Por isso, a principal missão da estratégia é definir a ambição estratégica, a visão de longo prazo ou o sonho grande da empresa.
2. Estratégia precisa ter coerência: Além de saber onde se quer chegar, um dos principais pressupostos da estratégia é fazer escolhas para atingir essa visão. Uma empresa que quer especializada em um tipo de cliente, não pode ter um processo comercial genérico. Uma empresa que vende exclusividade e luxo, não pode focar em redução de custos. Michael Porter, diz que a posição estratégica envolve trade-offs e que não é possível ser tudo ao mesmo tempo. Ter isto claro, evita que as empresas copiem estratégias bem-sucedidas para os concorrentes, mas que não tem coerência com a visão e posicionamento desejado.
3. Estratégia também é dizer o que não vai fazer: como disse antes, estratégia tem a ver com escolhas. No caminho, surgem inúmeras oportunidades, a pergunta a ser feita é quanto isso, apesar de oportuno, contribui com a visão definida e quanto é coerente com o posicionamento escolhido. Dizer o que não vai ser feito facilita o processo decisório e ajuda a direcionar os esforços na direção desejada.
4. Estratégia é resultado de um processo consciente: É inegável que o trabalho duro e talento levam muitos empreendedores até o sucesso sem uma estratégia formal. Porém, para a manutenção do negócio e crescimento, uma estratégia de sucesso precisa ser o resultado de um processo consciente. Isso quer dizer que ela precisa ser planejada. O planejamento permite refletir sobre o que trouxe a empresa até a posição atual e para onde ela quer seguir, olhando para dentro e para fora. Michael Porter diz que “Estratégia consiste em fazer escolhas, compensar; trata-se de escolher deliberadamente ser diferente”.
5. Estratégia não pode ser míope: O processo de formulação estratégica deve incluir uma visão holística da empresa e negócio e do mercado e concorrentes através da coleta de informações e dados que suportem a tomada de decisão. Porém, muitas empresas querem decidir a estratégia com uma visão apenas interna. Não investir tempo a ouvir ou entender as outras partes interessadas (colaboradores, clientes, fornecedores e concorrentes) tendem a criar estratégias míopes que não geram valor ou não se sustentam por muito tempo.
6. Estratégia não é estática: Apesar de deliberada, a estratégia não está escrita em pedra. Isso quer dizer, que nem sempre o que está planejado trará os efeitos esperados. Quanto mais robusto o processo de formulação estratégica, mais chances do planejado dar certo. Porém, é preciso estar atento aos movimentos do mercado pois eles podem nos trazer novas ameaças e oportunidades que afetem nossa visão e não podemos ignorá-las. Mintzberg diz que as estratégias emergentes são tão importantes quanto as planejadas e não podemos ser vítimas da rigidez do plano e sucumbir às pressões de um ambiente em constante mudança.
7. Estratégia e cultura andam de mãos dadas: Simon Sinek queria entender porque algumas empresas tinham muito mais sucesso que outras. Assim, ele concluiu que a maioria das empresas sabem o quê fazem, algumas sabem como fazem, mas poucas sabem dizer porquê fazem (Golden Circle). Num mercado consumidor onde as pessoas não compram apenas produtos, mas compram propósitos, uma estratégia sem considerar a cultura da empresa (propósito, missão e valores) está fadada ao fracasso. A cultura permite formular uma estratégia coerente com a essência da empresa além de ajudar no engajamento dos colaboradores e na atração dos clientes.
8. Estratégia requer inovar: Dado que o processo de formular a estratégia é atingira a visão de longo prazo e dado também que o ambiente das empresas está em mudança acelerada, não existe como garantir a sobrevivência sem inovar. Não é fácil olhar para a inovação quando se tem tanto para melhorar na operação. Mas estratégia se trata exatamente de retirar o viés sobre a operação e olhar de forma mais ampla. É importante que o portfolio de projetos ou opções estratégicas que se planejem tenham um componente de manutenção do core (negócio ou produtos atuais), de adjacência (produtos ou negócios complementares) e transformação (produtos ou negócios inexistentes). Para mais detalhes recomendo os aprendizados de Ram Charan sobre inovação: https://merithu.com.br/2019/08/14/inovar-ou-morrer-aprendizados-do-ram-charan/
9. Estratégia sem meta é apenas sonho: Uma estratégia que não pode ser medida, é apenas um desejo. A visão da organização tem que ser aspiracional e engajadora, porém temos que conseguir transcrever ela em metas que nos permitam medir o avanço da estratégia. Estas metas, além das financeiras, podem incluir outras dimensões importantes como impacto social, ambiental e interno. Para isso, sugiro a Matriz BSC que além de fazer-nos pensar sobre os indicadores que refletem as diretrizes estratégicas, facilita validar a coerência do planejado.
10. Estratégia não é um plano engavetado: Mesmo que os gestores reconheçam a importância da estratégia para o negócio, nem sempre lhe conferem o protagonismo necessário. Ou pior, a estratégia se resume a book estratégico criado em um workshop anual e esquecido entre os arquivos da organização. Se formular a estratégia já é difícil, passar para ação exige ainda mais gestão da organização. A estratégia depois de formulada deve ser acompanhada, as metas devem ser desdobradas em metas anuais e em toda a organização e os projetos devem ser gerenciados em relação a custo e entregas. Uma reflexão estratégica anual ajuda nisso, pois permite entender o que deu certo, o que pode ser melhorado e o que deve ser descartado, além de dar o senso de urgência para continuar implementando o que é importante para o negócio.
Nas últimas décadas, autores de Porter a Osterwalder nos ajudaram a compreender mais sobre estratégias. Há cada vez mais disponíveis metodologias e ferramentas. Mas isso apesar de facilitar o processo de formular, não garante o sucesso da estratégia planejada.
A estratégia precisa que a organização tenha uma mentalidade estratégica e espero que este artigo possa ajudá-lo nisso.
Caso queira saber como aplicamos estes mandamentos nos nossos projetos de formulação estratégica, convido-lhe a ler nosso artigo: https://merithu.com.br/2021/04/07/manual-de-sobrevivencia-como-a-sua-organizacao-pode-prosperar-em-meio-as-transformacoes-no-mundo-dos-negocios/
Autora:
Karen Medroa
É Consultora Sênior da MERITHU Consultoria no Rio Grande do Sul. Durante os 7 anos de sua trajetória adquiriu experiência em gestão, controladoria e implantação de projetos complexos, atuando em projetos de governança familiar, melhoria de receita, gestão de contratos, estruturação e implantação de modelo de gestão, treinamentos internos e educação corporativa, implantação de ERP e formulação estratégica. É Economista formada pela UFRGS e Mestra em Administração pela PUCRS com ênfase em Estratégia, Organização e Sociedade e pesquisadora na área de inovação social.
Data de publicação: 23/08/2022