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O trabalho não será mais o mesmo: você está preparado?

É inegável que a pandemia se tornou não apenas um problema de saúde global, mas também trouxe junto impactos econômicos e sociais que já afetaram e continuarão acometendo milhões de pessoas no mundo todo. Todas essas mudanças e incertezas recaem também sobre o mercado de trabalho e trazem à luz discussões de como será o futuro nessa área.

 

Muitas mudanças significativas dos modelos de trabalho já foram implantadas por diversas empresas, aceleradas por restrições impostas pela Covid-19. Muitas já migraram para o modelo de home office, sendo que algumas não pretendem voltar a operar mais no modelo físico, enquanto outras pensam em adotar um modelo híbrido de trabalho.

 

Porém, o futuro laboral não só mudará os modelos de trabalho, como também exigirá novas habilidades para que os profissionais acompanhem o ritmo de todas essas mudanças. A terceira edição do relatório Future of Jobs 2020 do Fórum Econômico Mundial mapeia as principais habilidades para 2025, as quais abrangem desde soft skills e questões comportamentais, até pontos de conhecimento relacionados à tecnologia, por exemplo.

 

Desenvolver a capacidade de resolução de problemas complexos é um dos principais pontos levantados para os próximos anos. Isso significa saber diagnosticar problemas corretamente, realizar análises cada vez mais profundas e aprimoradas, e usar a lógica e o raciocínio para propor soluções diferenciadas e inovadoras, e principalmente, com foco no usuário. O impacto dessas habilidades recai especialmente sobre a eficácia na resolução dos problemas. Nessa mesma linha, o pensamento crítico vem para deixar crenças e opiniões de lado, e concentrar os diagnósticos em fatos e dados, fundamental em tempos em que as fontes de informação se multiplicam em progressão geométrica, mas não com a devida confiabilidade. Também, máquinas estarão cada vez mais preparadas para execução de rotinas operacionais, demandando seres pensantes para atividades nas quais haja necessidade de raciocínio e tomada de decisão.

 

Diretamente relacionado ao ponto anterior, destacam-se as competências de criatividade, originalidade e iniciativa. Essas habilidades são reforçadas também no artigo Human inside: How capabilities can unleash business performance publicado pela Deloitte, onde os autores acreditam que o ambiente de negócios do futuro vai exigir curiosidade, a imaginação, a criatividade, a empatia e coragem para enfrentar cenários complexos.

 

Não há criatividade se não houver curiosidade e imaginação. A curiosidade nos faz buscar informações e panoramas além daquilo que nos é apresentado. O curioso formula perguntas que podem mostrar cenários ainda não pensados, ampliando horizontes e revelando alguns pontos que podem ser oportunidades ainda não exploradas. Já a imaginação é a capacidade de criar possibilidades. É uma habilidade primordial para viver em um ambiente onde as inovações acontecem de forma tão rápida.

 

O professor Murilo Gun, especialista em criatividade, em sua palestra Criatividade para solução de problemas, ministrada na Feira do Empreendedor 2020 Digital, ensina que ela é a imaginação aplicada para resolver problemas. Nesse sentido, utilizamos o conhecimento adquirido através da curiosidade e a capacidade de criar cenários que a imaginação permite e combinamos tudo isso com o intuito de buscar uma solução para um dado problema.
O grande segredo da criatividade e suas correlatas é que elas são algumas das habilidades que apenas os humanos possuem, ou seja, não podem ser substituídas por robôs. Portanto, fortalecer-se nelas é uma oportunidade para assegurar espaço em um mundo corporativo cada vez mais automatizado.

 

Para que as demais acima citadas possam acontecer, a coragem é habilidade essencial. De nada adianta ser curioso, ter boa imaginação e criatividade se não há coragem para expor suas ideias. A coragem é a ação que leva o time a atingir melhores resultados, mesmo que isso signifique aceitar certos riscos pessoais. Com um futuro cheio de incertezas, as pessoas podem sentir medo sobre o trabalho que executam, seu desempenho, seu potencial e sua relevância. Coragem para agir é reconhecer o que você não sabe, pedir ajuda e agir a despeito dos riscos.

 

O futuro laboral também exigirá cada vez mais maturidade das pessoas em questões comportamentais. Estar aberto a mudanças, controlar emoções, aceitar críticas construtivas, ser tolerante a diferenças e ter resiliência são pontos muito falados, porém muitas pessoas não conseguem visualizar suas lacunas neles, pois se prendem somente às deficiências técnicas. Hoje temos mais clara a percepção de que não existe apenas uma inteligência, como geralmente era associada no passado ao conhecimento e desempenho nas disciplinas escolares, e isso abriu espaço para se falar da importantíssima inteligência emocional, que envolve questões como trabalho em equipe, cooperação, percepção social e empatia. O conceito de empatia é simples: é a habilidade de compreender outras pessoas e saber reconhecer que elas têm necessidades, desejos e preferências distintas. Uma pessoa empática busca entender os sentimentos, necessidades e pontos de vista dos outros, lidando melhor com diversas situações, podendo assim antecipar necessidades e oportunidades. E à inteligência emocional se junta a habilidade de orientação ao serviço, que traz a importância de que as pessoas busquem ativamente maneiras de ajudar o próximo, sejam clientes, usuários finais, ou os seus colegas.

 

Ainda relacionadas à postura do indivíduo, as habilidades de negociação, persuasão, liderança e influência social são vistas como fundamentais para os próximos anos. Elas são muito relacionadas à capacidade argumentativa e exigem senso de compartilhamento, de coletivo. Se engana quem acha que apenas posições de chefia são exigidas nessas habilidades: estamos negociando o tempo todo, mesmo pequenos pontos, e dificilmente estamos sozinhos em uma missão, o que demanda o direcionamento dos esforços para o mesmo sentido, combinando de forma eficiente as ações do grupo.

 

Um fator importantíssimo a ser observado pensando no futuro do trabalho é a questão da aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem. Tempos atrás, um diploma universitário era considerado uma vantagem competitiva, assim como falar um segundo idioma. Hoje, não que não sejam mais relevantes, mas são pontos fundamentais, e não exatamente diferenciais. Além disso, não são mais suficientes. Cursos universitários, em grande parte, são bastante voltados para a academia. Dessa forma, apesar de fornecerem importantes formações, muitas vezes estas não estão devidamente alinhadas com as necessidades práticas e reais do mercado, demandando estudos complementares, que por sua vez, estão cada vez mais amplamente disponíveis, principalmente em plataformas digitais, de forma paga ou gratuita.

 

Em suma, não há mais justificativas para permanecer desatualizado, e as empresas esperam fortemente que seus colaboradores tenham a iniciativa de trazer novidades e melhorias para a corporação sem que precisem ser solicitados para isso. Também, a aprendizagem ativa é um sinal de que a pessoa tem controle e gestão da própria carreira, pois não se acomoda na zona de conforto. E, principalmente, como disse o futurista Alvin Toffler, os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não possuem a capacidade de aprender, desaprender e reaprender, dada a velocidade com que as informações chegam e os conceitos e formas de fazer algo mudam. Estar disposto a esse processo será indispensável para fazer parte do mundo corporativo.

 

Por fim, mas não menos importante, as habilidades relacionadas ao conhecimento e domínio da tecnologia também aparecem como necessárias para o profissional do futuro. Dominar ferramentas, compreender linguagens de programação, saber avaliar sistemas e como utilizá-los para melhores resultados serão conhecimentos cada vez mais esperados dos profissionais. Grande parte desse conteúdo é disponibilizado na internet, e não requer um ensino formal para que possa ser desenvolvido.

 

Atualmente, não há mais garantia que as habilidades que possuímos e que até hoje eram necessárias para atuarmos profissionalmente serão relevantes no futuro. Como vimos, é necessário que estejamos preparados para aprender, desaprender e reaprender. As empresas que cultivarem essas habilidades em seus colaboradores terão pessoas motivadas a resolverem desafios e com capacidade de mudarem o rumo quando for necessário, antecipando cenários possíveis, tomando decisões mais acertadas e criando o futuro desejado. E as próximas gerações a chegar no mundo do trabalho precisarão ter esse mindset muito claro, pois será uma habilidade vital para os próximos tempos.

 

 

 

Autores:

 

 

 

Geraldine Cornutti

 

É consultora na MERITHU Consultoria no Rio Grande do Sul. Durante os 10 anos de sua trajetória profissional, atuou em empresas nacionais e multinacionais, onde adquiriu experiência em planejamento, gestão e controladoria, atuando em projetos de melhoria de despesa e custos, estruturação e implantação de modelo de gestão e mapeamento de processos. É engenheira química, especialista em Controladoria de Gestão e Mestre em Engenharia de Produção, com ênfase em Gestão de Custos, pela UFRGS.

 

 

 

Maria Paula Malta

 

É consultora na MERITHU Consultoria no Rio Grande do Sul. Ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional, atuou no desenvolvimento de produtos e serviços, gestão de projetos, gestão e melhoria de processos, marketing (estratégia e pricing) e qualidade em serviços. Participou de projetos de formulação estratégica e mapeamento de processos. E? Engenheira de Produção formada pela UFRGS, especialista em Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, também pela UFRGS, e possui MBA em Tecnologia para Negócios pela PUCRS.

 

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