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Impactos da Covid-19 nas empresas abertas brasileiras: análise do segundo trimestre

A crise da Covid-19 fez com que boa parte das empresas, frente a uma nova forma de trabalho, tivessem que buscar uma readaptação de seus processos. Neste cenário, há organizações que conseguiram realizar essa readaptação de forma mais ágil (ou que tinham menos a “readaptar”) e há organizações em que tal readaptação, especialmente na velocidade em que se fez necessário, foi algo totalmente inesperado para o momento.

 

Desta forma, uma espécie de termômetro para tal situação são os resultados econômicos e financeiros das empresas, os quais, em grau maior ou menor, ilustram os impactos da pandemia (confira mais sobre os possíveis impactos financeiros da covid-19 nas empresas aqui). Este artigo apresenta os impactos da Covid-19 a partir da análise dos demonstrativos financeiros – DRE e Balanço Patrimonial – das 379 empresas brasileiras que entregaram seus dados à CVM até 10/09/2020 (empresas dos segmentos financeiros, como bancos, seguradoras, entre outras e empresas cujo calendário fiscal seja diferente do calendário civil estão fora da análise). O estudo tem como escopo principal o comparativo do 2º trimestre de 2020 (2T20), o primeiro semestre completamente inserido em contexto de pandemia, em relação ao 2º trimestre de 2019 (2T19).

 

 

Lucro líquido: queda forte para maioria das empresas abertas

 

Olhando sob a ótica do lucro líquido, percebe-se que a maioria das empresas tiveram um impacto negativo na comparação entre 2T19 e 2T20: queda de 71%. Além disso, é importante destacar que do total de empresas analisadas, 60,4% delas apresentaram resultados piores que no mesmo período do ano anterior. A Figura 1 ilustra este quadro turbulento resultante do impacto da Covid-19 nas companhias brasileiras de capital aberto.

 

 

Figura 1 – Queda de 71% no lucro das empresas abertas brasileiras

 

Ainda sob a ótica do lucro líquido, decompondo-se a queda de 71% em valores absolutos, observa-se que os principais fatores componentes da queda são o aumento das despesas financeiras e operacionais, no comparativo de 2T19 em relação a 2T20. Os demais fatores negativos foram mais que compensados por impostos menores durante o período, consequência do menor lucro antes de imposto de renda. A Figura 2 apresenta essa composição.

 

 

Figura 2 – Fatores componentes da queda de Lucro Líquido

 

Nem todos setores, obviamente, saíram perdendo durante a crise do Covid-19. Alguns, setores apresentaram uma melhora no lucro líquido, obtendo resultados superiores na comparação 2T19 x 2T20. Casos como o setor de extração mineral (R$ +6,4 bilhões) e alimentos (R$ +2,7 bilhões) indicam que o ambiente causado pela Covid-19 se mostrou como favorável para negócios destas naturezas. Outros bons exemplos são os setores de Saneamento, Serv. Água e Gás (R$ +1,0 bilhões), Construção Civil e Materiais (R$ +0,2 bilhões) e o setor Farmacêutico e Higiene (R$ +0,2 bilhões), todos com resultados melhores na comparação dos trimestres analisados.

 

Por outro lado, há setores que sofreram de forma muito mais intensa as consequências da diminuição de demanda repentina causada pelo avanço do Covid-19. Setores como Petróleo e Gás (R$ -22,6 bilhões), Papel e celulose (R$ -6,2 bilhões) e Serviços de transporte e logística (R$ -5,3 bilhões) tiveram seus resultados fortemente afetados.

 

As empresas do setor de Comércio apresentam um ponto interessante relacionado a esta crise: de maneira geral, empresas em grau mais avançado de transformação digital conseguiram se adaptar melhor ao momento e foram capazes de capturar receitas maiores durante a pandemia, ao passo que as organizações que ainda tem um longo caminho a percorrer dentro da transformação digital, obtiveram resultados piores. Bons exemplos desta situação são a B2W – Companhia Digital (+1 bilhão em receita) e a Magazine Luiza S.A. (+2,7 bilhões de receita).

 

 

Rentabilidade abaixo da taxa de atratividade

 

A queda de lucro líquido das empresas tem consequências além das numéricas expressas diretamente nos números absolutos dos demonstrativos. Indicadores de rentabilidade utilizados por investidores para tomada de decisão no momento de direcionar seus investimentos apontam para um fato importante: no consolidado, as empresas abertas brasileiras tiveram uma queda de ROE (Return on Equity) que as coloca em uma posição de pouquíssima atratividade para investidores (ROE = 4,0%, abaixo da taxa mínima de atratividade de 11,8%). Neste link você pode conferir mais detalhes e a aplicabilidade do ROE.

 

A queda do ROE de 13,9% para 4,0% na relação 2T19 x 2T20 se deve principalmente pela queda de margem líquida e do giro do ativo, compensadas em parte, ainda que insuficientemente, pelo aumento da alavancagem. A Figura 3 traz os cálculos.

 

 

Figura 3 – Árvore do ROE – Consolidado 2° Trimestre Empresas Abertas Brasileiras

*ROE calculado sobre balanços em posição 30/06/2020 e 30/06/2019. Considera taxa atrativa como SELIC + Equity Risk Premium calculado por Damodaran (NYU Stern).

 

Outro fato importante resultante da análise é o fortalecimento de caixa, ainda que às custas de endividamento. Os números demonstram que 71% das empresas reforçaram seu caixa, com a proporção de caixa no ativo total passando de 5,9% para 9,4%. O valor de caixa das empresas saltou de R$ 287 bilhões para R$ 513 bilhões, um aumento de +79%.

 

Porém, este aumento de caixa se deu nitidamente pelo aumento de endividamento. Significa que, com receio do efeito da duração e intensidade da crise em seus negócios, as empresas abertas brasileiras foram ao mercado financeiro e captaram, com sucesso, recursos que as possibilitassem conforto e segurança do ponto de vista financeiro para enfrentar a crise. Os demonstrativos mostram que 62% das empresas aumentaram suas dívidas e a proporção de dívida foi elevada a 39% do passivo total. Em números, o endividamento passou de R$ 1,65 trilhões para R$ 2,12 trilhões, um aumento de +29%.

 

É importante notar, aqui, uma diferença crucial entre as empresas abertas presentes neste estudo, que captaram recursos com sucesso, com os relatos e dificuldades das pequenas e médias empresas durante a pandemia, que tiveram acesso bastante dificultado a crédito e amargaram juros maiores, mesmo com as sucessivas reduções da taxa SELIC pelo banco central.

 

 

O balanço final da crise do Covid-19 do ponto de vista financeiro

 

O panorama geral de resultados financeiros das empresas abertas durante a crise do Covid-19 é, definitivamente, ruim. O lucro líquido diminuiu para a maioria dos setores, existindo algumas exceções vinculadas a setores beneficiados pelas características da crise e outros, possivelmente, melhor preparados para o ambiente de “novo normal” que se estabeleceu de forma abrupta. Ainda assim, ressalta-se que para a maior parte das organizações, a mudança repentina de ambiente foi prejudicial.

 

Este argumento é reforçado especialmente pelo comparativo do ROE com a taxa de atratividade. É possível observar que, no consolidado das empresas abertas, além do ROE estar abaixo da taxa mínima de atratividade no 2T20, o número de empresas em que esta situação é verdadeira aumentou consideravelmente.

 

Os dados indicam também que, frente a uma instabilidade geral dos mercados sem precedentes na história recente da humanidade, as empresas abertas buscaram, de maneira geral, reforçar seus caixas ainda que isto só tenha sido possível com o aumento do endividamento.

 

 

O que fazer daqui por diante? Quais os próximos passos das organizações brasileiras?

 

Para empresas que se encontram em cenário semelhante à dos valores consolidados encontrados para as companhias abertas brasileiras, recomenda-se:

 

 

Confira nosso report completo neste link!

 

 

Autores:

 

 

 Daniel Flores

 

Consultor Sênior da MERITHU Consultoria no Rio Grande do Sul. Com mais de 10 anos de experiência como consultor e executivo, auxiliou empresas dos setores de saúde, varejo, bens de consumo duráveis e não-duráveis, siderurgia, bens de capital e aeronáutico a melhorarem seus resultados operacionais através de aumento de receitas, redução de custos e despesas, otimização de processos, aumento da produtividade industrial e padronização de qualidade. É graduado em Engenharia de Produção pela UFRGS.

 

 

 Guilherme da Silva

 

Consultor Junior da MERITHU Consultoria no Rio Grande do Sul. Durante sua trajetória profissional trabalhou em diferentes setores como indústria, varejo, construção civil e serviços. Participou de projetos de desenvolvimento de ferramentas gerenciais, gestão de estoques, aumento de receitas  e gerenciamento pelas diretrizes – GPD. É Engenheiro de Produção pela UFSM e Mestre em Engenharia de Produção com ênfase em pesquisa operacional pela UFSM.

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